sexta-feira, abril 29, 2005

A minha proposta de referendo

"Concorda com a proibição do consumo de bebidas alcoólicas em locais públicos; com a instituição do regime de recolher obrigatório às 17h30; com o fim do campeonato nacional de futebol; com o aumento do horário de trabalho para 12 horas por dia; com o fim dos subsídios de férias e de Natal; com a abolição da figura da "justa causa de despedimento"; com o aumento das portagens e instituição destas nas estradas nacionais e até em caminhos de terra batida; com o aumento substancial de todos os impostos começados pela letra "I"; com o reconhecimento do Mirandês como língua oficial; com a candidatura de Manuel Maria Carrilho à Câmara Municipal de Lisboa; com o aumento do preço do m2 de terreno em todo o País; com a proibição da pesca de Petinga; com o aumento do preço do Petróleo e seus derivados; com a proibição de concessão de crédito pessoal; e que deixe de constituir crime o aborto realizado nas primeiras dez semanas de gravidez, com o consentimento da mulher, em estabelecimento legal de saúde?"
SIM -
NÃO -

terça-feira, abril 26, 2005

Ainda os Adolescentes II

Sigo, com especial interesse, este blog e o que se comenta, um pouco por toda a blogosfera, masculina e não sobre este tema.
Se bem percebi, segundo o Afonso, autor deste post, toda esta parafernália à volta de jovens impúberes radicará num suposto Princípio de Honra Masculina.
Vive-se de uma dinâmica algo maniqueísta de contrários femininos, entre a pura e a impura, a experiente e a inexperiente. Uma dinâmica em que o contrário virginal e inocente é o combustível para este principio.
Assim se lê,
“Numa época em que, parafraseando o Pedro Mexia, a virgindade está em extinção, suposta vox populi, há razões masculinas acrescidas para colocar no altar do desejo a lolita. O magnetismo contudo não residirá tanto nela quanto na preservação da integridade da honra do homem. Com efeito, com a vulnerabilidade em fundo da banalização da perda precoce da virgindade, a ameaça à honra masculina só pode ser inteiramente aplacada nas adolescentes nas quais é interdito tocar, impoluíveis por posse física. A pulsão para a apropriação simbólica, fantasiadora, da jovenzita virginal, transubstanciada na sua inacreditável atractividade, será assim uma disposição libidinosa atomicamente informada pela honra masculina.”
Ora, do anterior se retira, (e aqui devo discordar) que, no fundo, tudo isto se reduz a uma ideia de dominação masculina, de apropriação do puro para concretizar, uma e outra vez, o referido principio, reforçando sempre a honra masculina.
Discordo, independentemente de esta lógica de dominação ser má para homens e mulheres como o Afonso vem aditar num segundo post.
E discordo essencialmente pela situação da tónica desta questão.
A ser assim, a suposta ninfofilia não poderia nunca ser experienciada por mulheres. Aos homens, numa lógica de satisfação de tendências em que a posse, o sexo e a honra masculina se confundem, estaria reservada a possibilidade de sentirem este tipo de atracção.
Não que por vezes não se confundam, ou até que não se confundam um pouco neste caso. Mas há variáveis mais importantes para a equação.
É o reduzir-se tudo a uma lógica de afirmação de honra masculina pela posse, ainda que fantasiosa, do objecto de desejo fantasioso e impoluto que me faz discordar.
Como escrevi no meu último post, a bela Natalie está para os homens, mais ou menos como o River Phoenix está para as mulheres. Nisto, sou secundada por outras mulheres a quem perguntei, à guisa de sondagem mas sem pretensões cientificas de qualquer espécie (just to make sure), se era verdade que também as mulheres podiam, ainda que inócua e abstractamente, sucumbir fantasiosamente ao belo, ainda que muito jovem.
A resposta é afirmativa. E porquê? Porque é belo.
Creio ser o que falta na equação. Na atracção pelo outro, o belo, ainda que mutável face aos cânones que se vão impondo de século para século, desempenha um papel fundamental.
Especialmente na atracção inócua. Se nas relações quotidianas ninguém espera (ou ninguém fica especialmente desiludido se isso acontecer) que todas as vizinhas/vizinhos, amigas/amigos, namoradas/namorados sejam top models, nas atracções em que a possibilidade de concretização inexiste e, por isso, mesmo, são inócuas, o belo desempenha um papel fundamental.
As pessoas bonitas são o combustível das fantasias.
Natalie Portman é “fantasy material” aos catorze anos não porque tenha catorze anos.
Mas porque já é atraente, independentemente da idade. È uma qualidade deslocada temporalmente porque não é expectável que alguém o seja em tão tenra idade.
Trata-se de uma admiração motivada pela beleza. E inócua, tão inócua.
Mesmo elas, as top models, são todas Natalies em potência, de uma beleza mais óbvia e padronizada talvez, mas também o são. As idades rondam os catorze, quinze e dezasseis anos. As campanhas publicitárias deixam-nas com ares de 24, mas não deixam de ter catorze anos.
A tal “disposição libidinosa informada pela honra masculina” é manifestação de uma hipersensibilidade ao belo que é típica das atracções inócuas.
É suposto sermos sensíveis à beleza, mesmo que ela se nos apresente muito longe da idade da mulher ou do homem feito, para recuperar uma expressão já utilizada.
Não se trata de uma fantasia sublimatória de cariz exclusivamente masculino, mas sim do prolongamento de uma fragilidade que todos, independentemente do género, parecemos ter, uma fragilidade perante a beleza e as pessoas bonitas que não se compadece, pelo menos na sua manifestação fantasiosa, com certas considerações da ordem do dever ser.


sexta-feira, abril 22, 2005

Ainda os adolescentes

Aqui, Aqui e Aqui falava-se de Natalie Portman e dos seus potencialmente perigosos encantos aos verdes catorze anos.
Pois, Natalie está para os homens como River Phoenix está (infelizmente já não entre nós) para as mulheres.
O fascínio platónico, (acautelem-se os histerismos) pelos impúberes ou barelly púberes ultrapassa, naturalmente, as fronteiras do género, e dos círculos de bloggers trintões...
Tal como Natalie, River Phoenix era muito atraente aos catorze, e aos quinze e aos dezasseis, e por aí em diante, até ao trágico final.
Falamos de uma abstracção, fantasiosa, que só faz sentido enquanto longe de qualquer possibilidade de concretização. Existe porque a beleza existe. E porque os homens e as mulheres não são indiferentes a ela, independentemente da censura moral ou de molduras penais. É o render-se perante o óbvio. As fantasias não são, fora de cenários tendencialmente orwelianos, dignas de tutela penal.
Por isso é que não se pode falar de Lolita.
É um fenómeno assaz diferente. Embora não fossem poucos os editoriais que classificavam Portman como uma Lolita, especialmente depois de Leon, o Profissional, o fascínio desencadeado pela, na altura, muito jovem actriz, andava longe do terreno mais pantanoso do imaginário de Nabokov. Assim seria, pelo menos na generalidade dos casos.
Mas nem o cinema está preparado para pensar em meninas precoces que seduzem homens de cinquenta anos. Lolita, o filme com Jeremy Irons, foi alvo de enormes críticas e censura nos EUA aquando da sua estreia.
Concordo que existe mesmo o tal “abismo entre a atracção e a imaginação sexual e qualquer comportamento «impróprio»” de que fala P.M.
Mais uma vez, River era mesmo muito atraente aos catorze, quinze e dezasseis anos. E a consciência não me dói enquanto escrevo isto.

Dos Sorrisos Psicossomáticos ou porque do mainstream também vive o cinema

Homem e mulher num restaurante.
Homem gaba-se das façanhas sexuais a jovem loira, melhor amiga e wannabe namorada.
Não a convence.
Jovem loira simula orgasmo num restaurante. Homem, incrédulo, pensa em todos os ahs, ohs, ais, uis, guinchos, suspiros, e puxões de pêlos no peito que já levou durante toda a sua vida. Cai um dogma. O “I do believe in fairies” que salva a vida das fadinhas na Terra da Nunca converte-se em “I do believe that women can’t fake orgasms”. Salva-se toda uma vida sexual.
“Senior Citizen “sentada ao canto do restaurante diz, convicta de ter achado a cura para a monotonia de uma vida sem orgasmos, “Quero o mesmo que ela pediu”.
“When Harry met Sally”….
Parece que toda a gente gosta de comédias românticas e afins. Não gosto assim tanto, mas reconheço-lhes os méritos. Ainda que, na maioria das vezes, sejam irritantes, sempre a mesmíssima coisa, e com os mesmíssimos finais felizes ao estilo “love conquers all”.
Mas provocam sorrisos psicossomáticos.
Alguém me disse que embora tendo inclinações cinematográficas diversas, não conseguia evitar um sorriso sempre que via o Notting Hill.
A anos-luz de Lars von Trier e a Bess do Breaking the Waves e a história de amor blasfemo e doentio que conta.
É uma obra-prima mas não deixa ninguém a sorrir de forma apatetada quando sai do cinema.
A Emily Watson não tem nada que ver com a Julia em Pretty Woman.
Sorrisos patetas da audiência feminina quando Gere se senta e observa, de cartão de crédito em punho, enquanto Julia experimenta as trezentas farpelas da loja posh de Rodeo Drive que lhe barrou a entrada. Sorrisos patetas de homens e mulheres quando Julia trauteia o “Kiss” do Prince numa banheira cheia de espuma.
Sorrisos que não se conseguem evitar: uma fórmula para o sucesso.

Indie mas não de Indiana Jones

Começou ontem o festival de cinema independente em Lisboa.

quinta-feira, abril 21, 2005

Interrupção voluntária da bancada parlamentar socialista

quarta-feira, abril 20, 2005

Manifesto anti- passividade para consumo rápido

“I see you looking at me like I’m some kind of freak, so get up of your seat, so why don’t you do something?"

By Miss Britney Spears

Porque é que mantenho a esperança que palestinianos e israelitas se entendam?

Porque o LTN escreve coisas como esta (“fundamentalmente porque é este papa”) sobre alguém que diz coisas como esta (via Diário Ateísta) “Se os divorciados se casam civilmente, ficam numa situação objectivamente contrária à lei de Deus. Por isso, não podem aproximar-se da comunhão eucarística, enquanto persiste tal situação” e eu continuo a gostar muito de ser amiga dele.
Pela tolerância e, já agora, lendo o post infra, pelo exercício da liberdade de expressão.

Ass.: A quota ateia deste blog

terça-feira, abril 19, 2005

Aviso

No dia em que saiu o tão esperado fumo branco da chaminé da Capela Sistina e que os sinos da Basílica de S. Pedro tocaram, anunciando a eleição no novo Papa, convém lembrar que não devemos confundir o lateral Michael Reiziger com o Cardeal Joseph Ratzinger.

segunda-feira, abril 18, 2005

Eles andem aí

Chegámos a um ponto em que, se quisermos ser tratados com o mínimo de dignidade e boa educação, temos que cumprir, escrupulosamente, dois requisitos: Vestir um fato e usar o vocabulário adequado para cada situação concreta.
Relativamente ao primeiro dos requisitos, veja-se então o porquê. Quando, durante o fim-de-semana, no melhor estilo casual, vamos a um restaurante de terceira ou quarta categoria ou a um café, não conseguimos evitar o “o que deseja?” seco e indiferente, independentemente de termos um aspecto minimamente asseado, barba feita, dentes lavados e devidamente perfumados. No entanto, se frequentarmos esses mesmos locais com o kit-dia-útil, e independentemente de termos mau aspecto, barba por fazer, dentes podres e cheirarmos mal, todos nos atendem com um sorriso rasgado e soltam imediatamente um “o que deseja, dotôr?”, “estava tudo do seu agrado, dotôr?”, que parece música para os nossos ouvidos. Assim, e para bem da minha auto-estima, resolvi agir em conformidade: Durante a semana só almoço em tascas (onde, com a indumentária que caracteriza a nossa profissão, sou sempre cumprimentado com um simpático e aparentemente genuíno “como está, dotôr”) e, durante o fim-de-semana evito frequentar esses antros – para evitar ser sentimentalmente apedrejado. Já dizia a velha máxima que “se não os podes vencer, junta-te a eles”. Assim o fiz. Hoje não saio de casa sem perguntar vezes sem conta “será que esta gravata condiz com a pobre decoração do café da esquina?”, “será que um fato “olho-de-perdiz” não será demasiado ostensivo para os frequentadores da tasca imunda onde vou almoçar?”. Sim, as perguntas são pertinentes. Se um fato e uma gravata podem ser a chave para o sucesso das nossas relações sociais em horas de repasto, também podem trazer, se não tivermos algum cuidado, muitos dissabores, já que muito facilmente podem apelidar-nos, sem piedade, de “fascistas”, “agressores de fracos e oprimidos”, "filhinhos do papá", entre outros mimos de conotação sexual (imagine-se o que dizem do aspecto impecável característico dos britânicos de meia idade).
Quanto ao segundo requisito, é um pouco mais complicado, estando apenas ao alcance dos verdadeiros sábios. Se não, vejamos: Se formos a um café e pedirmos uma cerveja de pressão, somos imediatamente alvo de gozo por parte do empregado (e que, sem darmos por isso, estende-se imediatamente aos habitués que passam todo o santo dia sentados naquele café). Temos que ser suficientemente evoluídos para saber pedir uma “imperial”, quando abaixo do Mondego, e um “fino”, acima da referida linha de água. Mais. Se formos a uma pastelaria e apontarmos para um bolo - sim, é legítimo não saber os nomes de todos os bolos existentes nas pastelarias -, somos imediatamente interrompidos pelo empregado que, com um tom sarcástico e um ar superior diz “portanto, quer um jesuíta, né?” e, quase de propósito, traz-nos um dos “jesuítas” que sobraram da panificação do dia anterior.
Estudo o fenómeno há alguns anos e posso dizer que não sou o único a pensar desta forma.
Feliz ou infelizmente, a minha actividade profissional obriga-me a passar umas horas por semana num Notário, numa Conservatória e, de vez em quando, num Tribunal. É precisamente nesses sítios que percebo o alcance da minha reflexão: As pessoas que por lá passam vão sempre impecavelmente vestidas e não perdem a oportunidade de gritar bem alto as palavras “emolumento”, “averbamento”, “provisória por dúvidas”, “citação para contestar”, etc., embora não façam a mais pequena ideia do que aquilo quer dizer. Pior. Os funcionários dessas instituições, deparados com indivíduos trajados de gala, nem sequer ousam questionar a sua autoridade na matéria, mesmo que os ditos “palavrões” não façam o mínimo sentido dentro de certo contexto, porque, afinal, são (ou aparentam ser) “dotôres”.
Este País está cheio de “dotôres”. Se INF afirmou, com razão, que em Portugal existe 1 Advogado para 450 habitantes, tenho a certeza que há, pelo menos, 1 “dotôr” para 10 habitantes. Felizmente, e como a estatística acima enunciada demonstra, há muitos (verdadeiros e legítmos) "dotôres" prontos a corrigir as inevitáveis asneiras provocadas pelos outros “dotôres”.
Não disserto sobre os "engenhêros", "gestoures" e "arquetetos", porque todos nós, infelizmente, já demos conta da sua existência em qualquer obra, empresa ou projecto...

Números, Blawgs e Boas Vindas

Existe, em Portugal, 1 advogado para cada 450 habitantes.

Existe, no Luxemburgo, 1 advogado para cada 1450 habitantes.

Há alguns posts atrás, o GMM escrevia que este blog se estava a tornar num blawg.

Foneticamente, a palavra blawg soa como regurgitar.

GMM regurgitou assim porque por aqui toda a gente leu, ou pelo menos, carregou, o “tijolo” do Canotilho...

As minhas desculpas pela “private joke” jurídica que, para deixar de ser private (joke talvez não seja porque não tem grande piada) passo a explicar que se refere ao manual de Direito Constitucional do Prof. Canotilho, manual esse que apresenta consideráveis dimensões e se assemelha, por isso mesmo, a um tijolo.

Assim, fazendo jus a tão interessantes números, aqui estamos nós, Pitagóricos, pequena amostra do nosso Portugal saturado de advogados, wannabe advogados (vulgo advogados estagiários) e insignes criaturas afins.

E como recorte deste nosso Portugal com muitos homens e mulheres de leis e com muito pouca justiça (não, não tenciono sabotar a classe por dentro, e a sempiterna crise da justiça dá outro post...), o Teorema tem mais um colaborador: JFR (JR, à Dallas, na lista aqui ao lado).

Um grande amigo, outro carregador de tijolos, e decerto uma excelente aquisição para a equipa dos Pitagóricos.

E, atrasadas também as boas vindas ao AMJ, meu ex-companheiro nestas lides bloguisticas, num saudoso e falhado (apenas porque terminou) projecto que se chamava Monstrengo.

Sejam bem-vindos!

sexta-feira, abril 15, 2005

Post de Merda II

Comecei a ler o novo livro do Umberto Eco, não aquele que elogia a beleza e que dele "só" tem a coordenação. Este é mesmo do mais célebre Professor de Semiótica.
Chama-se "A misteriosa chama da Rainha Loana" e conta a história de um Senhor que acorda de um AVC que lhe fez perder a memória. Não a memória "semântica" mas a memória "autobiográfica". Yambo (é o nome do dito cujo) lembra-se de tudo sobre Júlio César, Proust, TS Elliot, Picasso e ainda sabe de cor poemas e citações que leu ao longo da vida, no entanto já não se lembra da mulher e filhas nem tão-pouco da sua infância.
Este livro é a história de uma pessoa à procura de si próprio, e que avança pelo nevoeiro guiado apenas por antigos álbuns de quadradinhos, cadernos escolares, discos e tudo mais que encontra no velho sótão da sua casa de campo.
Posto isto, estava eu embrenhado na leitura deste romance quando dei por mim a lembrar-me do meu querido amigo GMM, se não vejamos...
"Acocorei-me, no grande silêncio meridiano, só interrompido por algumas vozes de pássaros e pelo cantar das cigarras, e defequei.
Silly season. He read on, seated calm above his own rising smell. Os seres humanos amam o perfume dos seus excrementos mas não o cheiro dos alheios. No fundo, são parte do nosso corpo.
Estava a sentir uma satisfação antiga. O movimento calmo do esfíncter, por entre toda aquela verdura, evocava-me confusas experiências anteriores. Ou é um instinto da espécie. Eu tenho tão pouco de individual, e tanto de específico (tenho uma memória de humanidade, não de pessoa) que talvez estivesse simplesmente gozando um prazer já provado pelo homem Neandertal. (...)
Quando acabei, tive a ideia de me limpar com umas folhas, devia tratar-se de um automatismo. Mas tinha comigo o jornal e rasguei as páginas dos programas televisivos (...).
Levantei-me e olhei para as minhas fezes. Uma bonita arquitectura em caracol, ainda a fumegar. Borromini. Devia ter o instestino em ordem, pois é sabido que só nos devemos preocupar se as fezes são demasiado moles ou até líquidas.
Via pela primeira vez o meu cocó (na cidade sentamo-nos na sanita e, depois, puxamos logo o autocolismo sem olhar). Já estava a chamar-lhe cocó, como acho que fazem os outros. O cocó é a coisa mais pessoal e reservada que temos. O resto toda a gente pode conhecer, a expressão do rosto, o olhar, os gestos. Também o nosso corpo nu, na praia, no consultório médico, enquanto fazemos amor. Até os pensamentos, porque habitualmente os exprimimos, ou porque os outros os adivinham pela nossa maneira de olhar ou pelo nosso embaraço. Claro que também há-de haver pensamentos secretos (...), mas em geral os pensamentos também se manifestam.
Pelo contrário, o cocó não. A não ser por um período muito curto da nossa vida, quando quem nos muda as fraldas é a mãe, depois é só nosso. E como o cocó daquele momento não devia ser muito diferente daquele que produzira no decorrer da minha vida passada, eis que naquele instante me estava a reencontrar com o eu mesmo dos tempos esquecidos e estava a ter a primeira experiência capaz de se juntar a inúmeras outras anteriores, incluindo aquelas de quando era criança e fazia as minhas necessidades nas vinhas.
Se olhasse bem em volta, talvez ainda encontrasse os restos do cocó que fizera na altura e, com as triangulações certas, o tesouro de Clarabela.
(...)
Ainda assim, não me sentia deserdado, mas contente, digo mesmo contente, de uma forma nunca experimentada após ter acordado. Os caminhos do Senhor são infinitos, disse para comigo, passam também pelo olho do cu."

AMJ, o mais recente "Pitagórico"

E assim o "Teorema" deixa, definitivamente, de ser um Blog, assumindo-se como um autêntico "Blawg"...

Só me ocorre uma palavra: Obrigado!

quinta-feira, abril 14, 2005

O estado da Justiça ou a justiça do Estado

O Ministro da Justiça, Alberto Costa, quer inovar o sistema informático dos Tribunais, de forma a "reduzir os custos e permitir uma ligação em rede de todos os Tribunais". O Ministro afirmou, ainda, que "um novo sistema informático nesta área irá fazer com que a Justiça em Portugal se torne mais rápida e eficaz". Acho muito bem. Por mim, até mandava instalar o MSN Messenger e o Championship Manager em todos os computadores. Como causídico, fico muito feliz por saber que o Governo pretende investir na Justiça mas, uma vez que estão uns autênticos "mãos largas", que tal pagar os honorários devidos aos Advogados?!

quarta-feira, abril 13, 2005

Diário de S. Miguel

terça-feira, abril 12, 2005

Parabéns!

Ainda em tempo, não podemos deixar de felicitar o "Acidental" pelo seu primeiro aniversário. Não só por ser um Blog de referência para os "Pitagóricos", mas também pelas relações de amizade (e até familiares) que mantemos com alguns dos seus colaboradores!
[Teorema de Pitágoras]

Queen

Quando soube que os "Queen" iam actuar em Portugal, LTN afirmou, com um ar indignado, que "os Queen sem Freddy Mercury são a mesma coisa que um hot dog sem salsicha". De facto, a constatação até é pertinente, mas não posso deixar de considerar, no mínimo, curisosa, a comparação entre o mítico vocalista e esse derivado de carne de porco.

Não porque sim

Afinal, foi só um "exemplo teórico de difícil execução"... Parece que o Governo quer fazer a "vida negra" aos jornalistas e cronistas virtuais, also known as bloggers, desmentindo notícias como quem compra 300 gr. de fiambre da pá. O "Ávido", sempre atento, já tinha denunciado esta situação. Por isso, proponho um período de vacatio legis de uma semana para toda e qualquer medida anunciada pelo Governo. Assim, não devemos comentá-las durante esse período, de forma a impedir que os sucessivos desmentidos afectem a qualidade e o rigor do nosso trabalho.

segunda-feira, abril 11, 2005

Ainda as taxas moderadoras

Se o Governo resolver aplicar taxas moderadoras diferenciadas consoante o “grau de urgência”, podemos então começar a classificar os doentes que utilizam os serviços de urgência como “aqueles que estão mesmo mal”, “aqueles que parecem estar mal, mas que na realidade estão bem”, e “aqueles que estão assim-assim”. Já agora, quem é que vai avaliar o "grau de urgência" de cada doente, os próprios médicos e/ou enfermeiros? Razão tem o Senhor Bastonário da Ordem dos Médicos...

quinta-feira, abril 07, 2005

Estoril Open 2005

Como ferveroso adepto e modesto praticante de ténis, não posso deixar de felicitar João Lagos pelo excelente quadro de jogadores que vão marcar presença no Jamor já a partir do próximo dia 23 de Abril, em mais uma edição do Estoril Open. Se a competitividade do torneio e a qualidade dos jogos fica assegurada por nomes como Juan Carlos Ferrero, Carlos Moya, Gaston Gaudio, Albert Costa, entre outros, as receitas de bilheteira vão aumentar significativamente com a presença da belíssima Jelena Dokic.



quarta-feira, abril 06, 2005

Muito bem, Senhor Deputado!

O P.C.P defende a criação de prazos para o Governo prestar os devidos esclarecimentos às questões colocadas pelos deputados. Acho muito bem. Subscrevo sem reservas António Filipe quando afirma que "muito frequentemente os requerimentos ficam sem resposta" e "muitas perguntas nunca são respondidas". No entanto, e se a medida for adoptada, poderá o Governo ter direito a apresentar a sua resposta nos três dias posteriores ao termo do prazo, mediante o pagamento de multa? E as receitas provenientes dessas multas, reverterão para quem? Mais, a falta de resposta a uma certa questão implica a confissão integral dos factos, criando assim no debate parlamentar uma espécie de efeito cominatório semi-pleno? E, já agora, podemos instituir a litigância de má-fé no parlamento? Podemos tratar Jaime Gama por "Meritíssimo Juiz"?

As loucas noites da SIC Notícias

Adormeci durante o debate entre L.F. Menezes e Marques Mendes. Infelizmente, o sono não foi tão profundo quanto desejava, já que era constantemente acordado pelas calorosas intervenções de João Adelino Faria.

segunda-feira, abril 04, 2005

Post de merda

Se há coisa que pode orgulhar um verdadeiro “gajo” é a sua capacidade de fazer cocó. De facto, momento verdadeiramente sagrado é aquele “tempinho” despendido no trono. Fazer cocó é tudo menos banal, e não pode ser qualificado como simples necessidade fisiológica: É uma arte que vamos aperfeiçoando ao longo da nossa vida, até chegar àquele momento em que estamos em perfeita sintonia com os nossos intestinos.
Pobres daqueles que, em busca do “momento”, necessitam de recorrer a todo o género de produtos, naturais ou artificiais, para poderem sentir-se “verdadeiros gajos”. Dos kiwis aos reguladores da flora intestinal - à venda em qualquer farmácia, hipermercado ou posto de abastecimento -, estas pessoas procuram, por todos os meios, ter sucesso e atingir o almejado estatuto de “cagador”.
Há várias atitudes a ter perante o trono. Há aqueles que, depois de um dia infernal no escritório, chegam a casa e deparam-se com uma vida familiar igualmente infernal. Para estes, que costumam demorar cerca de uma hora no trono, o “momento” é como que a única altura do dia em que estão verdadeiramente em paz consigo próprios e, indirectamente, com os outros.
Outros há que aproveitam o “momento” para por a leitura em dia. Da revista “Maria” comprada pela empregada ucraniana ao “Anjos e Demónios” de Dan Brown, tudo serve para acompanhar devidamente o terceiro cigarro mais saboroso do dia (a seguir ao cigarro do depois-do-almoço e do depois-do-jantar). Apesar das diferenças, têm um ponto comum: Intitulam-se, orgulhosamente, de "caga-em-casa".
Estes dois géneros de “cagadores” são os verdadeiros amantes desta arte: Sabem apreciar devidamente aqueles minutos, minutos esses que podem, repentinamente, mudar as suas vidas – sim, porque é possível ser iluminado enquanto se faz cocó; é possível ter uma ideia sobre uma oportunidade de negócio peregrina, enquanto permanecemos, quase imóveis, naquilo que apelido de “atmosfera perigosa”.
Desde que comecei a trabalhar tenho-me deparado, infelizmente, com um terceiro tipo de “cagadores”. Sobressaltado pela descoberta acidental, apressei-me a estudar e teorizar sobre o assunto. Este terceiro género é por mim, reconhecida autoridade na matéria, composto por pessoas que, infelizmente, resolvem infernizar a vida das pessoas que, por manifesta necessidade fisiológica ou meramente estética, frequentam regularmente as casas de banho dos escritórios onde trabalham. Neste género podemos, facilmente, encontrar dois sub-géneros: Aqueles que só o conseguem fazer após o primeiro laxante (leia-se café) do dia, e aqueles que o fazem várias vezes por dia, em qualquer lado, como que a prestações – o que deixa transparecer uma certa apetência pelo recurso ao crédito ou qualquer modalidade atípica de financiamento. No fundo, são pessoas para quem as prestações, sejam elas de que natureza for, fazem parte integrante das suas vidas.
Este terceiro tipo de “cagadores” é, em regra, anónimo: Ninguém sabe, ao certo, quem eles são, apenas sabem que lá estiveram. Lamentavelmente, deixam a sua marca em toda e qualquer casa de banho por onde passam: São seres primários que não fazem a mínima ideia para que serve o piaçaba e desconhecem as mais elementares formas de atenuar o odor.
O cheiro é uma consequência natural do “momento”. É tão natural que só podemos neutralizá-lo artificialmente. No entanto, também neste capítulo há diferenças gritantes: Os verdadeiros sábios acompanham o exercício intestinal com um ou dois cigarros o que, a final, deixa um aroma menos intenso, mas acaba por deixar as paredes das casas de banho meio amareladas. Os inexperientes usam os vaporizadores, mas é sabido que este tipo de produtos contem substâncias altamente cancerígenas (ainda mais que os cigarros e as latas de tinta utilizadas anualmente para pintar a casa de banho juntos). A única solução (saudável) é abrir a janela e impedir qualquer pessoa de entrar na casa de banho nos 45 minutos subsequentes à descarga.
Também nesta actividade há certos deveres deontológicos a cumprir. Para bem da urbanidade e cooperação que deve reger esta classe profissional, urge codificar e sistematizar os princípios e regras que devem nortear esta actividade. Fica aqui, portanto, um apelo ao nosso legislador – que, pela forma como legisla, enquadra-se perfeitamente no terceiro género de “cagador”.
Como toda e qualquer arte que se preze, a arte de fazer cocó é constantemente alvo de infâmias Aqueles que lhe querem mal – os maus -, normalmente fiéis seguidores de outras artes, leigos da matéria, continuam a associar o cócó à flatulência. Embora intimamente ligados, não podemos cometer a ousadia de associar o “traque” ao “cocó”. Parte da Doutrina Internacional que partilha deste entendimento refere que o “traque” é como que o momento imediatamente anterior ao “cocó” dele fazendo, portanto, parte integrante ou, pelo menos, questão prejudicial.
No entanto, e salvo melhor opinião, o “traque” e o “cocó” são compartimentos-estanques; completamente autónomos. Normalmente, um bom “cagador” apenas dá traques para se divertir – isolada ou conjuntamente, e um bom “traquejador” apenas faz cocó quando os seus traques começam a ficar desvirtuados.
Há, no entanto, um momento no qual é impossível separar as águas: Quando um “cagador” assume a posição de ataque, é inevitável que solte uns quantos traques. Todavia, não o faz voluntariamente, pelo que não podem os apologistas da tese da condensação acima descrita, aproveitar-se deste facto natural para sustentar a sua tese. Se assim fosse, e porque também é normal deixar escapar uns gemidos ou grunhidos enquanto se faz cocó – gemidos e grunhidos esses exclusivamente derivados do esforço muscular -, teríamos, forçosamente, que associar os “gemedores” e/ou os “grunhidores” à classe dos “cagadores” o que, naturalmente, está fora de hipótese.
Podia começar a dissertar sobre as diferenças entre as loiças sanitárias “Roca” ou “Valadares”, mas abstenho-me de fazê-lo por amor à Pátria...

Pedido de desculpa antecipado

Estive três dias a pensar naquilo que ia escrever. De repente, já furioso com tamanha falta de inspiração, dei por mim a gritar "que merda é esta?" e "não sai nada", enquanto barrava o meu corpo com Peannut Butter. Depois de devidamente barrado, apto a fazer as delícias de qualquer norte-americana, associei as expressões "que merda é esta" e "não sai nada" e saiu aquilo que se segue, e desde já peço desculpa por tal...

sábado, abril 02, 2005

Guilty Pleasure II e as Idas e vindas

FPB é a mais recente contratação da equipa pitagórica (no meio de tantos homens de barba rija, "so they say", só me fica é bem o linguajar futebolístico) e começa bem, muito bem.
Há quem chegue e há quem parta, ainda que só temporariamente.
Eu parto.
Vou, confesso alegre e despudoradamente, para onde todos vão. O destino de férias de todos os portugas.
O Brasil é o meu guilty pleasure.
Férias nada originais.
Estou indo de novo.
(última frase com utilização de gerúndio para ir começando a adaptar o sotaque)
Assim, durante as próximas duas semanas não postarei, estarei entregue ao merecido descanso da guerreira( só guerreira por favor, sem o menina).
Com estes três, ficam bem entregues.

Da Sabedoria nas Paredes II

Proposta do recém chegado F.P.B. para o prémio“Se era para escreveres isto ficavas em casa a ver telenovelas da TVI com o GMM.” (Please pardon my/his french) : "Putas ao poder porque os filhos já lá estão"!
Mais um ex aequo!

sexta-feira, abril 01, 2005

Guilty pleasure I... Rever o Último Tango em Paris e achar piada quando Brandon diz: "get the butter"...

New blogger

A Gerência desta tasca imunda gostaria de dar as boas-vindas ao Francisco Balsemão (para não variar, mais um mui ilustre advogado), o mais recente "Pitagórico".
Homem de muita letra e lendário cronista de contos mirabulantes, é desde algum tempo seguidor atento desta tasca. Gabe-se-lhe o mau gosto. Hoje junta-se a ela e esperemos que por aqui deixe umas linhas com ávida regularidade.
Boas Postas!
- Há caracóis
- Há pipis
- Há moelas
- Há pica-pau
GMM/INF/LTN

Da sabedoria nas paredes

Recordo-me, a propósito da frase "Antes uma doença venérea do que uma Paz do caralho" vencedora do “Prémio Satisfação Garantida ou o seu dinheiro de volta” neste blog (está nos meus favorites by the way), de umas pinceladas já dadas sobre os escribas urbanos, que agora republico e reformulo, no já deceased Monstrengo.
À guisa de imitação descarada decidi também premiar... as frases que se seguem vencem ex aequo o Prémio “Se era para escreveres isto ficavas em casa a ver telenovelas da TVI com o GMM.” - cf. post anterior para perceber a piada...
É que determo-nos sobre a sabedoria pincelada nas nossas paredes um pouco por todo o país vale realmente a pena.
Desconheço quais serão as motivações de tão brilhantes e insondáveis mentes, mas o que é certo é que, ante tais demonstrações de genialidade a violação da propriedade privada é um mal menor.
Ilustres desconhecidos estes autores, que presumo serem génios obscuros e frustrados pela incapacidade, talvez por falta de editora, de partilhar a sua sabedoria com o mundo.
Lido: "Os espiritos matam+/- 200 pessoas por noite."
Nas Caldas da Rainha e em alguns locais de Lisboa. Surpreendente pelo facto de, mais do que relatar o facto de ocorrer, todas as noites, uma verdadeira chacina perpetrada por criaturas do além, ainda produz informação estatística. Atenção, o +/- está mesmo lá...
Lido: "Abaixo a música ambiente opressora do metro"
No metro de Lx, também fascinante e demonstrativo de como de facto não há causa que não mereça, senão uma revolução, pelo menos uma manifestaçãozita...porque toda a causa é causa desde que sentida no âmago dos que protestam! Imagino o autor desta frase em plena Baixa Lisboeta, rodeado de canídeos e a fazer malabarismo com fogo para ganhar uns trocos, como forma de manifesto contra as várias opressões: a capitalista e a da música no metro, tudo, in the end of the day, basicamente a mesma coisa.
Lido: "Mutilação como medida tautológica"
Novamente nas Caldas da Rainha. Terra de grandes mistérios, asseguro-vos. Surpreendente, insondável, brilhante... não percebi, acho que o autor também não...acima de tudo o que é que a mutilação tem a ver com um vício de linguagem..but ok that's just me!
Aceitam-se propostas de mais frases candidatas ao prémio “Se era para escreveres isto ficavas em casa a ver telenovelas da TVI com o GMM.”
As frases têm que ser imperscrutáveis, os autores anónimos incompreendidos e excluídos pelo sistema, devem estar escritas em Português.
O A com o círculo à volta não é qualificável como frase.