terça-feira, abril 26, 2005

Ainda os Adolescentes II

Sigo, com especial interesse, este blog e o que se comenta, um pouco por toda a blogosfera, masculina e não sobre este tema.
Se bem percebi, segundo o Afonso, autor deste post, toda esta parafernália à volta de jovens impúberes radicará num suposto Princípio de Honra Masculina.
Vive-se de uma dinâmica algo maniqueísta de contrários femininos, entre a pura e a impura, a experiente e a inexperiente. Uma dinâmica em que o contrário virginal e inocente é o combustível para este principio.
Assim se lê,
“Numa época em que, parafraseando o Pedro Mexia, a virgindade está em extinção, suposta vox populi, há razões masculinas acrescidas para colocar no altar do desejo a lolita. O magnetismo contudo não residirá tanto nela quanto na preservação da integridade da honra do homem. Com efeito, com a vulnerabilidade em fundo da banalização da perda precoce da virgindade, a ameaça à honra masculina só pode ser inteiramente aplacada nas adolescentes nas quais é interdito tocar, impoluíveis por posse física. A pulsão para a apropriação simbólica, fantasiadora, da jovenzita virginal, transubstanciada na sua inacreditável atractividade, será assim uma disposição libidinosa atomicamente informada pela honra masculina.”
Ora, do anterior se retira, (e aqui devo discordar) que, no fundo, tudo isto se reduz a uma ideia de dominação masculina, de apropriação do puro para concretizar, uma e outra vez, o referido principio, reforçando sempre a honra masculina.
Discordo, independentemente de esta lógica de dominação ser má para homens e mulheres como o Afonso vem aditar num segundo post.
E discordo essencialmente pela situação da tónica desta questão.
A ser assim, a suposta ninfofilia não poderia nunca ser experienciada por mulheres. Aos homens, numa lógica de satisfação de tendências em que a posse, o sexo e a honra masculina se confundem, estaria reservada a possibilidade de sentirem este tipo de atracção.
Não que por vezes não se confundam, ou até que não se confundam um pouco neste caso. Mas há variáveis mais importantes para a equação.
É o reduzir-se tudo a uma lógica de afirmação de honra masculina pela posse, ainda que fantasiosa, do objecto de desejo fantasioso e impoluto que me faz discordar.
Como escrevi no meu último post, a bela Natalie está para os homens, mais ou menos como o River Phoenix está para as mulheres. Nisto, sou secundada por outras mulheres a quem perguntei, à guisa de sondagem mas sem pretensões cientificas de qualquer espécie (just to make sure), se era verdade que também as mulheres podiam, ainda que inócua e abstractamente, sucumbir fantasiosamente ao belo, ainda que muito jovem.
A resposta é afirmativa. E porquê? Porque é belo.
Creio ser o que falta na equação. Na atracção pelo outro, o belo, ainda que mutável face aos cânones que se vão impondo de século para século, desempenha um papel fundamental.
Especialmente na atracção inócua. Se nas relações quotidianas ninguém espera (ou ninguém fica especialmente desiludido se isso acontecer) que todas as vizinhas/vizinhos, amigas/amigos, namoradas/namorados sejam top models, nas atracções em que a possibilidade de concretização inexiste e, por isso, mesmo, são inócuas, o belo desempenha um papel fundamental.
As pessoas bonitas são o combustível das fantasias.
Natalie Portman é “fantasy material” aos catorze anos não porque tenha catorze anos.
Mas porque já é atraente, independentemente da idade. È uma qualidade deslocada temporalmente porque não é expectável que alguém o seja em tão tenra idade.
Trata-se de uma admiração motivada pela beleza. E inócua, tão inócua.
Mesmo elas, as top models, são todas Natalies em potência, de uma beleza mais óbvia e padronizada talvez, mas também o são. As idades rondam os catorze, quinze e dezasseis anos. As campanhas publicitárias deixam-nas com ares de 24, mas não deixam de ter catorze anos.
A tal “disposição libidinosa informada pela honra masculina” é manifestação de uma hipersensibilidade ao belo que é típica das atracções inócuas.
É suposto sermos sensíveis à beleza, mesmo que ela se nos apresente muito longe da idade da mulher ou do homem feito, para recuperar uma expressão já utilizada.
Não se trata de uma fantasia sublimatória de cariz exclusivamente masculino, mas sim do prolongamento de uma fragilidade que todos, independentemente do género, parecemos ter, uma fragilidade perante a beleza e as pessoas bonitas que não se compadece, pelo menos na sua manifestação fantasiosa, com certas considerações da ordem do dever ser.