sexta-feira, abril 22, 2005

Dos Sorrisos Psicossomáticos ou porque do mainstream também vive o cinema

Homem e mulher num restaurante.
Homem gaba-se das façanhas sexuais a jovem loira, melhor amiga e wannabe namorada.
Não a convence.
Jovem loira simula orgasmo num restaurante. Homem, incrédulo, pensa em todos os ahs, ohs, ais, uis, guinchos, suspiros, e puxões de pêlos no peito que já levou durante toda a sua vida. Cai um dogma. O “I do believe in fairies” que salva a vida das fadinhas na Terra da Nunca converte-se em “I do believe that women can’t fake orgasms”. Salva-se toda uma vida sexual.
“Senior Citizen “sentada ao canto do restaurante diz, convicta de ter achado a cura para a monotonia de uma vida sem orgasmos, “Quero o mesmo que ela pediu”.
“When Harry met Sally”….
Parece que toda a gente gosta de comédias românticas e afins. Não gosto assim tanto, mas reconheço-lhes os méritos. Ainda que, na maioria das vezes, sejam irritantes, sempre a mesmíssima coisa, e com os mesmíssimos finais felizes ao estilo “love conquers all”.
Mas provocam sorrisos psicossomáticos.
Alguém me disse que embora tendo inclinações cinematográficas diversas, não conseguia evitar um sorriso sempre que via o Notting Hill.
A anos-luz de Lars von Trier e a Bess do Breaking the Waves e a história de amor blasfemo e doentio que conta.
É uma obra-prima mas não deixa ninguém a sorrir de forma apatetada quando sai do cinema.
A Emily Watson não tem nada que ver com a Julia em Pretty Woman.
Sorrisos patetas da audiência feminina quando Gere se senta e observa, de cartão de crédito em punho, enquanto Julia experimenta as trezentas farpelas da loja posh de Rodeo Drive que lhe barrou a entrada. Sorrisos patetas de homens e mulheres quando Julia trauteia o “Kiss” do Prince numa banheira cheia de espuma.
Sorrisos que não se conseguem evitar: uma fórmula para o sucesso.