segunda-feira, fevereiro 28, 2005

Um magnífico início de semana

Apesar de ser 2.ª feira, o que é péssimo por natureza, tive um início de tarde verdadeiramente pornográfico. Os nossos escassos leitores devem estar neste preciso momento a pensar "partiu uma perna?", "foi assaltado?", "cruzou-se com o Dr. Louçã?", "espatifou um carro?". A todas estas perguntas poderia responder com um simples "sim", pois são fatalidades às quais nem os mais afortunados podem escapar. Mas aquilo que aconteceu foi muito pior: Pela terceira vez na minha vida, passei umas horinhas numa repartição de finanças.
Lá estava eu rodeado de reformados, indigentes, e "chicos-espertos". Eu até posso bem com os pobres dos reformados, que não conseguem estar uns minutinhos em silêncio sem um qualquer lamento ou um desabafo do género "este País está cada vez pior" ou "isto é uma vergonha", o que denota bem o sentimento de esperança desta faixa etária na nova maioria parlamentar. Por outro lado, percebi que uma repartição de finanças poderia perfeitamente ser considerado o ex-libris dos locais de engate lisboetas: De facto, todos se falam, todos trocam uns sorrisos, insultam em uníssono os funcionários, todos se despedem carinhosamente: Tudo seria perfeito e poderia ser realmente eficaz se houvesse alguém minimamente interessante em toda aquela área, ou seja, alguém digno de engate. Mas aquilo que realmente me transcende é a razão pela qual tenho que presenciar aquelas movimentações estratégicas de tipos supostamente distraídos e que, quando por nós interpelados, respondem simplesmente "ah, pensei que era o meu número de senha", ou perguntam "importa-se que passe à sua frente? É só uma informaçãozinha...". É óbvio que me importo. Mas também não consigo perceber porque é que tenho que fazer conversa com a pessoa que está sentada ao meu lado e teorizar sobre o preço da sardinha e da beterraba na praça da ribeira, ou porque é que tenho que saber que a filha da D. Olinda, a Cândida Maria, está quase a acabar o curso superior de educadora de infância...
Eu até sou tolerante, mas a minha paciência esgotou-se quando ouvi um dos funcionários a tentar falar inglês com um cidadão britânico... Cheguei ao escritório por volta das 15h00 e preenchi o formulário on-line para poder apresentar as minhas declarações de rendimentos através da internet.
Este País está cada vez pior...

quinta-feira, fevereiro 24, 2005

O Artigo 437.º do Código Civil

Este post do Pedro Mexia inspirou-me. De facto, nada como percorrer o nosso Código Civil, fugir um pouco à Teoria Geral do Direito, e tentar aplicar os princípios que consagra à política. Embora as consequências jurídicas sejam bastante semelhantes, bem como o seu campo de aplicação, prefiro, de longe, o regime da alteração superveniente das circunstâncias - Assim, ainda posso fazer um brilharete e trazer à colação a chamada cláusula rebus sic stantibus e ninguém vai sequer ousar perguntar-me o que significa. Vejamos: O P.S ganhou as eleições. O P.S vai formar Governo. O P.S vai governar sozinho. O P.S pode não conseguir resolver os problemas que denunciou. Se isso acontecer, o P.S vai justificar-se com o já conhecido "pegámos no País num estado deplorável". É precisamente aqui que quero chegar. Poderá o P.S, caso a situação actual (supostamente dramática) se mantenha, alegar que as circunstâncias foram imprevisivelmente alteradas por factos desconhecidos aquando da contratação (eleição)? Poderá essa alteração onerar, de forma clamorosamente injusta, a prestação de uma das partes contratantes (Governo)? Não, não pode. E não porque a posição do Governo não possa ser, de facto, ingrata. Mas porque, durante a sua oposição e durante a sua campanha eleitoral, o P.S demonstrou conhecer bastante bem o "tal" estado em que o País se encontrava. Assim acabam-se as desculpas. Assim, aquilo que foi considerado como uma "vitória estrondosa" pode perfeitamente ser um presente envenenado. Voltando à minha querida Teoria Geral, a previsão do artigo 437.º do Código Civil não está preenchida, pelo que a aplicação da sua estatuição é totalmente inadmissível. Quid Juris? Um Presidente atento. Chega perfeitamente e não tem sequer que recorrer ao ars inveniendi, ao melhor estilo das escolas medievais (ou seja, o nosso próximo presidente não tem que ser jurista - pode ser, por exemplo, economista). O que interessa é que os resultados práticos são os mesmos.

(Des)entendimentos

Após ler este post do Paulo Pinto Mascarenhas, fiquei subitamente refém de dois sentimentos totalmente antagónicos. Por um lado, contente por saber que a minha inquietação anterior, que aqui descrevi, perdeu a sua razão de ser: afinal, parece que o Prof. Freitas do Amaral não está na corrida para ser o "Presidente de todos nós", o que - e socorrendo-me daqueles boatos bem ou mal desmentidos, total ou parcialmente infundados - deixaria o Prof. Cavaco Silva na simpática posição de canditado preferido do P.S para as próximas eleições presidenciais. Por outro lado, fiquei triste. É realmente triste saber que um canal privado de televisão, que actualmente comemora 12 anos de existência, continua a optar por colocar, nos seus serviços informativos, demasiadas notícias tão trágicas como irrelevantes.

segunda-feira, fevereiro 21, 2005

Tristeza

Num fim de semana para esquecer (mais dois pontinhos perdidos pelo "meu" Sporting e a "catástrofe" eleitoral de ontem), só a Manuela Moura Guedes conseguiu fazer-me rir. E isso é triste, muito triste...

sexta-feira, fevereiro 18, 2005

Frases feitas para dia 21

Algumas sugestões para que tenha uma resposta pronta e inteligente às provocações dos seus colegas de escritório...
"Até acho o Jerónimo de Sousa um tipo catita".
"O Francisco Louçã nem sequer é mau diabo".
"Sempre gostei mais do Miguel do que do Paulo".
"O José Sócrates foi um grande Ministro e merece esta oportunidade".
"O Santana Lopes nunca deveria ter saído do Sporting".
"A culpa foi da abstenção".
"Tivemos muitas oportunidades, mas não conseguimos concretizar nenhuma".
"Esta derrota é o preço a pagar pela política-espectáculo".
"Se houvesse 2.ª mão, a reviravolta era possível".
"Quem não marca, arrisca-se a sofrer".
"É o sistema".
"Os erros individuais pagam-se caro".
"Na política, o que hoje é verdade amanhã pode ser mentira".
"Vamos continuar a trabalhar".
"Se calhar devia ter votado na Nova Democracia".
"Não preguei olho a noite inteira".

quinta-feira, fevereiro 10, 2005

Desfolhando um jornal (não se trata de um fado)

Fui apanhado completamente desprevenido quando me disseram, ontem, que a Simone tinha abandonado um denominado "jantar de cultura" promovido pelo PSD. Entrei imediatamente em pânico e a primeira coisa que me ocorreu foi perguntar "porque carga de água é que a Nina Simone abandonou o jantar?", questão esta imediatamente substituída por outra, respeitando o nexo prejudicial existente entre ambas, "porque é que a Nina Simone foi convidada para este evento se ela não é portuguesa?" Fiquei mais sossegado quando me disseram que a pessoa em causa não era o "monstro sagrado" do Jazz, mas sim a nossa simpática actriz/cantora Simone de Oliveira. Depois de ter passado a noite a teorizar sobre o assunto, sem chegar a nenhuma conclusão - o que aliás, já é hábito, acordei e pus-me a folhear (com o mouse) os jornais, procurando uma qualquer referência ao célebre jantar. Estava à espera de encontrar títulos do género "Agustina Bessa-Luís e Ruy de Carvalho juntos em jantar de apoio a Santana", ou "Grandes figuras do panorama cultural nacional, como Agustina Bessa-Luís ou Ruy de Carvalho apoiam Santana", mas não. Enganei-me redondamente. Os títulos variavam entre "Simone dá tampa a Santana", "Simone justifica porque abandonou o jantar com Santana" e, quase em nota de rodapé, lá estava a honrosa referência a essas "figuras menores" do nosso País "Nesse jantar também estavam Agustina Bessa-Luís, Ruy de Carvalho...".

Desabafo absolutamente legítimo

Pode ser da minha tenra idade, pode ser da minha ingenuidade política, mas ainda consigo ficar surpreendido com algumas notícias (como esta), não obstante ter a obrigação, enquanto Português, de estar preparado para tudo. Desta vez, aquilo que chamou a minha atenção e fez-me escrever estas inúteis linhas, em jeito de desabafo, foi a mais recente declaração de vontade do Eng.º José Sócrates que afirmou, convictamente, que queria "uma maioria absoluta absolutamente legítima". Embora o nosso País não esteja, propriamente, saudável, acho que ainda não nos encontramos ao (baixo) nível das mais recentes Democracias mundiais, onde tudo é questionável, começando pelos resultados eleitorais. Nesses locais exóticos é pertinente pedir uma maioria absoluta absolutamente legítima, já que as hipóteses de alcançar uma maioria relativa absolutamente ilegítima ou uma maioria absoluta relativamente legítima, são mais que muitas. Mas por este andar, para lá caminhamos...

quarta-feira, fevereiro 09, 2005

Oscarizáveis e Voos Rasos

Hollywood adora próteses, patologias, deficiências várias, maníaco-depressivos, “passive-agressives”, paranóias, doenças, maluquinhos em geral e sofredores em particular.

Oscarizável que se preze emagrece ou engorda vinte quilos, ou é psicopata, ou usa próteses ou passa por cinco horas de maquilhagem antes de gravar cada cena.

Holly Hunter muda e virtuosa no Piano, Hanks com problemas mentais em Forrest Gump, seropositivo e vitima de discriminação sexual em Philadelphia, Charlize desfigurada, Nicole com laivos de Cyrano de Bergerac, Dustin Hofman vestido de mulher, Hopkins serial killer, Daniel Day Lewis paralisado e prodígio, Jamie Foxx cego em Ray...

Interpretações brilhantes, mas Sissy Spacek não levou o Óscar para casa por Vidas Privadas, apesar da extraordinária interpretação, porque era das contidas. Afinal, não tinha nenhuma prótese, não matou vinte pessoas, só tinha perdido um filho (Berry também, mas não é das contidas, o overacting é claro. Aqui, entenda-se, sem depreciação alguma).

E agora Dicaprio/Hughes que lava as mãos cem vezes por dia (como Hans Christian Andersen), urina para dentro de garrafas e é, no geral, descompensado.

Há realizadores que me causam problemas de digestão. Digestão metafórica entenda-se. Martin Scorcese é um deles. À excepção de “A Idade da Inocência” que me apaixonou ao primeiro visionamento e me continuou a encantar em todos os que se seguiram, os filmes mais recentes de Scorcese são sempre de difícil digestão. Especialmente os oscarizáveis.

Foi assim com Gangs de Nova Iorque, foi assim com o Aviador.

A sensação é sempre a mesma: Daniel Day Lewis excepcional, Leonardo di Caprio excepcional.

Mas a ponta solta permanece, há qualquer coisa que falta no argumento, alguma solidez, alguma consistência.

Mesmo coadjuvado por secundários notáveis como Cate Blanchet personificando a outra Kate, há alguma coisa que escapa a Di Caprio e teima em fugir a Scorcese até ao fim do filme.
Tal como em Gangs de Nova Iorque e a Idade da Inocência há atenção aos pormenores: a reconstrução da época dourada de Hollywood com todos os seus monstros sagrados (Ava, Errol, Kate e o próprio Hughes), o cuidado guarda-roupa (o de Cate/Hepburn é especialmente bem conseguido), e o ar efeminado da ridícula banda do bar da gente de Hollywood são créditos.

Mas o filme é excessivamente longo, quase se arrasta até ao momento do aparatoso acidente, e o fim, abrupto.

As paixões de Hughes, os aviões e as mulheres, as patologias com a limpeza aparecem superficialmente retratadas, e o trabalho de construção do personagem (muito ao jeito dos normalmente galardoados com a estatueta dourada) de Di Caprio, convertido em novo “favorite brat” de Scorcese, não permite a criação de empatias com a personagem.

Pelo contrário, Di Caprio é irritante. Mas é oscarizável.

Ao contrário do que acontecia com Hofman em Tootsie, em que a construção de um personagem muitissímo ajudado pela caracterização, mas com uma personalidade muito vincada, conjugada com o Hofman desmaquilhado personificando o actor frustrado e irascível (inspirado no próprio Hofman, muito conhecido pela temperamento irascível e perfeccionismo maníaco), mas que criava empatias com o público, Scorcese não consegue que se goste de Hughes. Não consegue que se torça por ele.

O voo do aviador, destinado à estratosfera, é raso.
Ainda assim, teremos finalmente o óscar para Scorcese?

History repeating?

Dúvida eleitoral baseada em boatos

Se o Eng.º José Sócrates vencer as próximas eleições legislativas, vai ter um grande dilema pela frente: Quem será o candidato presidencial do P.S, o Prof. Freitas do Amaral ou o Prof. Cavaco Silva?

sexta-feira, fevereiro 04, 2005

Porque é Carnaval...

E não há Carnaval como o Brasileiro (e ainda porque me contorço de pura inveja de um amigo que foi passar o Carnaval ao Brasil), aqui fica a minha homenagem a dois grandes compositores e ao povo mais folião do mundo!

Felicidade

De Antonio Carlos Jobim e Vinicius de Moraes
Tristeza não tem fim
Felicidade sim
A felicidade é como a gota
De orvalho numa pétala de flor
Brilha tranquila
Depois de leve oscila
E cai como uma lágrima de amor
A felicidade do pobre parece
A grande ilusão do carnaval
A gente trabalha o ano inteiro
Por um momento de sonho
Pra fazer a fantasia
De rei ou de pirata ou jardineira
Pra tudo se acabar na quarta feira
Tristeza não tem fim
Felicidade sim
A felicidade é como a pluma
Que o vento vai levando pelo ar
Voa tão leve
Mas tem a vida breve
Precisa que haja vento sem parar
A minha felicidade está sonhando
Nos olhos da minha namorada
É como esta noite
Passando, passando
Em busca da madrugada
Falem baixo, por favor
Prá que ela acorde alegre como o dia
Oferecendo beijos de amor
Tristeza não tem fim
Felicidade sim

Reflexão eleitoral

Numa coisa José Sócrates e Pedro Santana Lopes estão de acordo: Ganha as eleições quem não as perder. Ora, e sem deixar de reconhecer o devido mérito aos dois candidatos pela brilhante conclusão a que chegaram, sou forçado a afirmar, seguindo a mesma linha de raciocínio, que ganhou o debate de ontem quem não o perdeu. Ou seja, ganharam os telespectadores que assistiram ao debate e a quem o jantar não caiu bem. E ganharam porque ao menos já têm uma certeza relativamente ao acto eleitoral de 20 de Fevereiro - ao contrário dos dois candidatos: Já sabem em quem não votar.

Wishful thinking...

"Só havia dois partidos de governo: hoje há três. Só havia dois candidatos a primeiro-ministro:agora há três."
Paulo Portas