Marc Forster arrisca e, para alguns, alcança. Arrisca um filme que só faz sentido se conseguir convencer os espectadores que sonhar acordado vale a pena, que a realidade, por mais dura que se apresente, é sempre passível de ser suavizada pelas teias da imaginação.
Ao contrário de Barrie, Marc Forster não pode espalhar crianças pelas salas de cinema para criar o ambiente e suavizar os corações. A audiência que necessita de ser convencida é adulta, grupos de graúdos que podem ou não ceder à magia do filme.
Talvez seja aí que Forster falha o alvo. É que Finding Neverland só faz sentido se despertar o sonhador que há em nós. Se nos fizer sentir como crianças, se nos deixar à mercê da nossa própria imaginação.
Não. Reformulo. Talvez seja aí que Marc Forster atinge o alvo. Ao lidar com problemas sérios, de adultos, como a morte, o casamento, o sucesso profissional, através de um olhar alienado em relação ao mundo, capaz de construir cenários, de ver cores no cinzento, aventuras na monotonia, beleza na saudade.
Depp é competentissímo, como sempre aliás, fazendo jus à sua reputação de actor que gere a sua carreira de forma pouco convencional, e abraça os projectos mais inesperados. Winslet, perfeita, as crianças inexcedíveis.
Já ouvi apontar erros de casting. Não concordo. As escolhas dificilmente poderiam ser melhores.
O facto é que quando o filme terminou, dei por mim a pensar na história do menino que não queria crescer de uma forma totalmente diferente. Mais sofrida, pungente na ideia de que crescer implica que se sofra como um adulto e por isso queremos todos ser crianças para sempre.
É uma belissíma história a do Peter Pan, roça a esquizofrenia, por se agarrar com tanta convicção à ideia de ilusão, levada ao limite do patológico.
Um exemplo: a fixação de Michael Jackson pelo Peter Pan e pela sua Neverland....
Bottom line, este filme, que para alguns pode parecer que falha o alvo porque parte da premissa, algo arriscada, de que todos padecemos com o mesmo desejo de ser crianças para ser sempre, é regenerador da capacidade de sonhar, tão rara nos nossos dias, acredita e abusa dos cenários sumptuosos para demonstrá-lo, para demonstrar que o sonho realmente comanda a vida e que se acreditarmos que um pózinho (não estou a falar dos alucinógenos) nos faz voar...voamos mesmo.