terça-feira, janeiro 11, 2005

Das convenções, do belo e das "buzinadas"...

As coisas devem obedecer a uma determinada ideia de belo, de suportável pelos nossos olhos e ouvidos.
As convenções existem para assegurar que determinados limites não sejam ultrapassados, para que determinadas fronteiras não sejam violadas, para que persista uma ideia de belo na sociedade.
Mas alguns detractores persistem nos seus intentos de ignorar toda e qualquer convenção, social ou outra, parecendo ignorar para que servem afinal tantas convenções.
O ferir constante da nossa sensibilidade deveria ser fundamento para penas a infligir aos detractores, mesmo que revestidas apenas de carácter simbólico e vexatório, com o "sole purpose" de destacar os detractores do belo de entre os demais.
Por exemplo, aos individuos que teimam em regurgitar abundantemente em tudo quanto é local público dever-se-iam aplicar medidas drásticas como a utilização obrigatória de açaimes.
Medida agravada quando o acto de regurgitar for acompanhado de som especialmente audível e escabroso.
Surgem-me à desfilada vários outros exemplos, alguns aparentemente inofensivos como os que nos ferem apenas a sensibilidade auditiva, mas dão golpes tais de misericórdia no Português que os gritos do Pessoa devem ressoar na tumba...
Lembro-me de alguns... "hádem" em vez de hão-de, gritado a plenos pulmões por uma qualquer criatura descontrolada, normalmente em tom de ameaça: "hádem cá vir!".
Ou o absolutamente irritante "gostastes" após um filme , uma refeição, ou qualquer outro prazer a que nos entreguemos com deleite (especialmente doloroso, imagino apenas, se for após determinado tipo de prazer...), e, manifestamente, com efeitos nefastos sobre qualquer sensação prazeirosa que tivesse restado.
E o "hádes"? Penso sempre que me encontro perante um qualquer exemplo de cultura e insight sobre mitologia grega mas logo me desiludo.
O que eles querem dizer é mesmo "hádes" e não Hades.
Mas o que me perturba seriamente, ao ponto do cataclismo da reacção física, são os espécimes que gritam impropérios ante a passagem de um elemento do sexo feminino ou buzinam freneticamente.
Bom, os impropérios são de óbvio mau gosto, mas naquela lógica distorcida quase percebo a finalidade de chamar a atenção mesmo que vociferando duas ou três alarvidades.
Mas buzinar! Porque é que os homens buzinam? Se num determinado momento uma mulher anda a pé e começa a habitual chinfrineira da buzina, claramente não dirigida aos outros condutores, qual será o intuito?
Será que eles esperam sinceramente que a "buzinada" corra atrás do carro?