segunda-feira, janeiro 24, 2005

Da falta de romantismo em Portugal...

A Câmara Municipal de Alpiarça tem um Código de Posturas.
(publicado na II Série do Diário da República de hoje, Edital nº 19/2005).
Este código visa estabelecer um conjunto de regras destinadas a melhorar a qualidade de vida dos municípes.
Até aqui, parece-me lindamente.
No entanto, quedei-me espantada ante a falta de sentido de romantismo desta autarquia porquanto no catálogo dos ruidos incómodos figure a realização de serenatas.
Estabelece o artigo 7º do referido Código de Posturas que, sendo considerado um ruído incómodo, é proibido "cantar, tocar e fazer serenatas desde as vinte e quatro horas até ás oito do dia seguinte" nas vias públicas e lugares públicos do concelho.
Mas será que alguém faz serenatas a outras horas? Toda a gente sabe que as serenatas se fazem de madrugada, que acordar os pais e os vizinhos do objecto de desejo faz parte do charme da coisa.
Que o primordial objectivo de se fazer uma serenata é levar com o clássico balde de água na tromba.
Toda a gente sabe que as serenatas se fazem num surto de inspiração romântica que anda de mãos dadas com a total falta de consciência e sentido do ridiculo.
Ora, estes sintomas surgem com mais frequência a horas impróprias, ninguém tem acessos de romantismo à hora do jantar, não há nenhuma alminha que se decida a prostrar-se debaixo de uma varanda cantando a plenos e desafinados pulmões à hora do lanche.
Mas o que é que pretende a Camâra Municipal de Alpiarça? Mutilar a veia romântica dos seus munícipes, castrar os mais desvairados sentimentos de paixão?
Pois eu exorto os municípes de Alpiarça a cantarem a plenos pulmões e a horas impróprias, porque o costume também é fonte de lei, e porque todos temos a convicção de obrigatoriedade das serenatas a inoportunas horas da madrugada desde tempos imemoriais.
Tenho dito.