terça-feira, maio 03, 2005

Dois em um

When the time is come...
Decide-se isto.
Pois, em Julho, com um sol abrasador, ninguém se vai dar ao trabalho.
Evita-se o constrangimento de uma abstenção significativa.
Evita-se a resolução nas urnas de uma das questões mais fracturantes da sociedade portuguesa.
Recorda-me outro momento em que, chamado à colação, pela natureza das suas funções, o PR tomou o que, para muitos, foi uma má decisão.
Indigitou Santana Lopes.
Para, depois, decidir, com grande sentido de oportunidade, que devia dissolver o Parlamento.
Não vai ser neste mandato de Jorge Sampaio que a IVG vai a referendo.
Os prazos não o permitem.
Creio que é pelo melhor.
Nunca aduzi aqui argumentos contra ou a favor da despenalização do aborto. Aduzo agora. Sou a favor da despenalização do aborto.
Não concordo, acima de tudo, com a tutela penal do aborto.
Do meu ponto de vista, as mulheres não devem ser presas por praticarem um aborto.
Não serve os fins das penas, não serve os fins da sociedade.
A solução francesa é, a meu ver, a mais correcta. A Lei Veil estabelece que a mulher, ainda que pratique um aborto fora das condições legalmente previstas, nunca comete um crime.
Encarcerar, estigmatizar, sujeitar à humilhação e vexame públicos uma mulher que comete um aborto, não raro numa situação de grande angústia, e num país em que a educação sexual é uma miragem, é de uma profunda hipocrisia.
Não sou pró-aborto. Ninguém, fora dos eixos mais fundamentalistas, o é, em bom rigor.
A anos-luz do fundamentalismo irresponsável da Women on Waves e da militância pró-vida que só falta queimar as "prevaricadoras" em praça pública, que se faça o que deve ser feito.
Que se entregue a discussão à Assembleia da República, e que esta, no exercício das suas competências, promova a despenalização.
nota: No Teorema de Pitagoras cada um dos bloggers é responsável, em exclusivo, pelas suas opiniões. Da mesma forma que o post do LTN sobre o Prof. Salazar é de sua única e exclusiva responsabilidade, as minhas opiniões sobre a IVG que são, sei-o bem, muito diferentes das opiniões de LTN e GMM são também da minha exclusiva responsabilidade. Por aqui, somos todos muito diferentes, e ainda bem.
Tributo ao debate de ideias
As caixas de comments deste blog e a este post (em que também participo) andam aguerridas.
Discute-se a IVG, os Direitos Humanos e outras questões satélite.
E felizmente que assim é. Diane, Lux, LTN e GMM discutem, animada e civilizadamente, a sempre fracturante questão da Interrupção Voluntária da Gravidez.
Assisti algo placidamente, consciente da minha privilegiada, e única naquele círculo, posição de amiga de todos os interlocutores.
Escrevo aqui, mas também escrevo aqui.
Este post já não é apenas sobre a IVG. É sobre o exercício da tolerância. É sobre o salutar hábito de convivência com pessoas cujas diferenças ideológicas em relação a nós se assemelham a abismos. Mas o intransponível é uma ilusão.
Há o prazer do exercício intelectual. Há a aprendizagem .
Ler os argumentos brandidos por LTN nas caixas de comments que acima refiro não me faz mudar de opinião.
Como também nunca me fez mudar de opinião discutir incansavelmente com o LTN, o GMM, o AMJ, FPB e o JFR (e ainda o FMS, de outras paragens) esta e outras questões.
Discutir até ao limite da minhas cordas vocais aquelas questões que o LTN sobranceiramente qualifica como as bandeiras da esquerda torna os meus dias melhores. Porque aprendo alguma coisa. Porque vejo as coisas sob a perspectiva do outro. Do outro que acha que a invasão do Iraque foi justificada, do outro que acha que as mulheres devem ser encarceradas quando fazem um aborto, do outro que acha que o PSD deveria ter ganho as últimas eleições, do outro que acha que os Direitos Humanos são uma ficção criada por umas quantas cabeças de vento com t-shirts do Che e dadas a frases intelectualóides que pensam que podem mudar o mundo.
Achismos à parte, aqui fica o meu tributo ao debate de ideias.