segunda-feira, abril 10, 2006

Evangelho segundo S. Judas

O som parece familiar, mas depois acaba com um sabor agridoce.
Ouvi uns amigos a falar deste artigo e não pude conter a curiosidade.
O evangelho de S. (?) Judas foi descoberto há algumas dezenas de anos e andou a vaguear pelo mercado negro até que um dos compradores não o conseguiu vender e resolveu dá-lo à Maecenas foundation para análise e tradução.
Parece que segundo este evangelho Judas não foi mais do que um instrumento de Jesus, o processo da traição pelo beijo, as 30 moedas de prata e a entrega de Jesus aos seus algozes, tudo isso foi previamente acordado, ou melhor ordenado por Jesus.
Será que esta descoberta - a ser verdadeira como parece - muda alguma coisa?
Segundo o meu humilde ponto de vista: nada!
Ter sido Jesus directamente ou Deus indirectamente a instruir Judas, não muda o seu fundamental papel na Paixão de Cristo. Sem Judas não teria havido Paixão.
Não é a primeira vez que alguém se debruça sobre esta questão, com ou sem evangelho. Será que todos os discípulos perceberiam esta traição forçada? Será que todos os discípulos teriam aceite entregar Jesus para a sua morte? Pelo menos S. Pedro tirou uma orelha a um...
Jesus sabia o que ia acontecer e aceitou-o. Não será legítimo esperar que Jesus, seguindo a vontade do Pai teria pedido a Judas para o fazer? Omissão ou acção em Direito são vistas como uma manifestação de vontade. Na maior das vezes com igual relevância. Se é aceite pela Igreja que Jesus pela sua inacção aceitou o seu aprisionamento e posterior morte, não poderá essa mesma Igreja conceber que esse resultado se deveu a uma acção ao invés de uma omissão? É aceite que só pela morte Jesus se libertou completamente e fazendo-o libertou-nos do pecado. Segundo este evangelho de S. Judas Jesus pediu a Judas para o "trair" porque só assim poderia libertar-se da prisão do corpo.

A meu ver a questão mais interessante é o número de evangelhos que se conhecem, para além dos reconhecidos e atribuídos a Lucas, Mateus, Marcos e João.
Jesus teve muitos seguidores, muitos felizardos que viveram com Ele, que ouviram da Sua boca a boa nova. Nada mais normal que esses mesmos tenham feito como lhes foi pedido e espalhado a boa nova por todo o mundo. De entre esses, muitos houve que deixaram a sua mensagem escrita, ora por eles, ora pelos seus seguidores ou até seguidores destes.
Inspiração Divina? Sim Deus inspira, mas é o homem que expira. E quando o homem expira essa exteriorização tem as limitações da sua própria natureza humana. Talvez por isso de entre os 4 evangelhos conhecidos são encontradas tantas diferenças, de estilo, de pormenor ou por vezes de conteúdo.
Quem escolheu os evangelhos certos e errados? O homem. Será que o fez por inspiração divina? Certamente, mas também sabemos que a Igreja desde sempre padeceu dos mesmos males. Irineu, o Bispo que tanto quanto se sabe teve uma grande influência na escolha dos evangelhos, fê-lo com a melhor das intenções, provavelmente depois de muito rezar e pedir a Deus por iluminação, mas será que as razões de outrora são válidas hoje? Será que um homem pode limitar a palavra de Deus?
Felizmente a dita inspiração divina não vem nos livros, mesmo nos sagrados.

Bem, agora vou prestar mais atenção a isto, que mesmo agora começou.