O País Relativo
Senhora ao volante de veículo transportando crianças faz manobra perigosa ao sair de uma paragem de autocarro, em flagrante desrespeito das regras da prioridade, quase chocando com autocarro. Segue-se conversa sui generis que serve, basicamente, de hermenêutica para o estado de coisas num país em que até fugir escapando a uma prisão preventiva com recurso a informações privilegiadas é relativo e pode ser sempre considerado ausência:
Motorista do autocarro (vociferando e espumando): A senhora não sabe que deve dar prioridade aos transportes públicos à saída de uma paragem de autocarro?
Motorista da carrinha cheia de criancinhas (em tom sobranceiro e supra-legis a fazer lembrar a outra que se chama Fátima): Sim. E depois?
Motorista de autocarro (entretanto com o autocarro parado e a interromper o trânsito e recorrendo ao insulto fácil ao governo): E depois????? A senhora não sabe nada sobre as regras de prioridade. Deve ter tirado a m##### da carta por correspondência. Mas a culpa não é sua, é do governo que a deixa conduzir carrinhas que transportam crianças.
Motorista da carrinha cheia de criancinhas (sentenciando e pondo, à boa maneira portuguesa da fuga para a frente, um ponto final na conversa) : Deixe-me em paz e vá à sua vida. Eu não tinha que lhe dar prioridade. A prioridade é relativa.
Pois. A fuga às autoridades, assim como o desrespeito das regras da prioridade ao volante de um veículo cheio de crianças a caminho da creche, é sempre relativa.
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