Carnegie Hall – Uma casa Portuguesa…
A chuva parou para ouvir a Marisa (en)cantar no Carnegie Hall.
Mas devo confessar que até 6ª feira à noite, a elegância natural, o gingar das ancas (bonitas por sinal) e a forma muito própria de estar no fado da cantora loira nascida em Moçambique e criada na Mouraria nunca me convenceram.
Ainda que defendesse a renovação do fado, preconizado pela fadista, a verdade é que na minha cabeça ainda se mantinha o bastião do fado na tertúlia de uma tasca, cantado pelo talhante e pela florista da esquina; em que o fadista é elogiado e desafiado pela audiência nos “Ah boca linda!”, “Ai garganta de oiro” ou nos “Puxa!” ou “Acredita!”, já para não falar nos “trai-lai-lai”…
Pois é, a verdade é que queria ver a sala mais do que o espectáculo.
Habituado à Gulbenkian e acusando a reputação da sala, cheguei a horas.
Afinal não é assim que se faz por estas bandas, os meus confrades emigras chegavam em magotes de 15, vestidos de baile a cheirar a naftalina e ostentando, quais condecorações presidenciais, as gravatas de domingo e os collants de casamento.
O atraso até nem era muito grave, mas os “arrumadores” não faziam ideia que o fado, antes de morrer na garganta, respira fundo e solta o mais belo e arrepiante canto, qual cisne ferido de morte.
Por não saberem era vê-las: famílias inteiras num chilrear de fios, cruzes, correntes e pulseiras com “Vítor” gravado a prata, a entrar em jeito de procissão, interrompendo a estocada final, ruminando o luto de um fado caído mas ainda não derrotado.
No meio do movimento do gado destacava-se uma voz, um orgulhoso lamento de uma vida sofrida... mas quando as costas peludas do Sr. Silva se afastavam e o palco deixava de ser uma miragem, a voz não combinava com a figura que via.
Mas devo confessar que até 6ª feira à noite, a elegância natural, o gingar das ancas (bonitas por sinal) e a forma muito própria de estar no fado da cantora loira nascida em Moçambique e criada na Mouraria nunca me convenceram.
Ainda que defendesse a renovação do fado, preconizado pela fadista, a verdade é que na minha cabeça ainda se mantinha o bastião do fado na tertúlia de uma tasca, cantado pelo talhante e pela florista da esquina; em que o fadista é elogiado e desafiado pela audiência nos “Ah boca linda!”, “Ai garganta de oiro” ou nos “Puxa!” ou “Acredita!”, já para não falar nos “trai-lai-lai”…
Pois é, a verdade é que queria ver a sala mais do que o espectáculo.
Habituado à Gulbenkian e acusando a reputação da sala, cheguei a horas.
Afinal não é assim que se faz por estas bandas, os meus confrades emigras chegavam em magotes de 15, vestidos de baile a cheirar a naftalina e ostentando, quais condecorações presidenciais, as gravatas de domingo e os collants de casamento.
O atraso até nem era muito grave, mas os “arrumadores” não faziam ideia que o fado, antes de morrer na garganta, respira fundo e solta o mais belo e arrepiante canto, qual cisne ferido de morte.
Por não saberem era vê-las: famílias inteiras num chilrear de fios, cruzes, correntes e pulseiras com “Vítor” gravado a prata, a entrar em jeito de procissão, interrompendo a estocada final, ruminando o luto de um fado caído mas ainda não derrotado.
No meio do movimento do gado destacava-se uma voz, um orgulhoso lamento de uma vida sofrida... mas quando as costas peludas do Sr. Silva se afastavam e o palco deixava de ser uma miragem, a voz não combinava com a figura que via.
A imagem que Marisa transparece não encaixa com o sentimento que veste, quem já a viu sabe o que digo, ela não se encolhe atrás da guitarra, antes a desafia e seduz com o balançar das ancas, como que a convidando a perder as peneiras e tomá-la de assalto.
Quando o público já estava rendido, a fadista invoca Maria Callas, desliga o som e canta sem muletas, uma voz e uma guitarra encheram a sala. E eu, lá em cima no galinheiro, no equivalente a um 7º andar, não só ouvia como me deliciava!
No final tive pena. Pena pela iniciativa não ter sido apoiada pelo estado português, nem uma palavra da embaixada, nem uma referência a uma qualquer fundação lusa… nada. A quem devo a minha noite de 6ª feira é ao World Music Institute e ao (meu) Bank of America.
Quando o público já estava rendido, a fadista invoca Maria Callas, desliga o som e canta sem muletas, uma voz e uma guitarra encheram a sala. E eu, lá em cima no galinheiro, no equivalente a um 7º andar, não só ouvia como me deliciava!
No final tive pena. Pena pela iniciativa não ter sido apoiada pelo estado português, nem uma palavra da embaixada, nem uma referência a uma qualquer fundação lusa… nada. A quem devo a minha noite de 6ª feira é ao World Music Institute e ao (meu) Bank of America.
Aproveito apenas para dizer que fazendo jus à minha (agora) mundialmente conhecida impulsividade, gritei um “ACREDITA!” durante um silêncio dramático do fado “Uma casa portuguesa”… afinal o meu bastião mantém-se, o fado só faz sentido se for sentido, se assim for, todo o palco - até o Carnegie Hall na big apple - mais não é que uma casa de Fados da Mouraria.
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