quinta-feira, junho 09, 2005

Eu gosto é do Verão...

O calor intensifica. Intensifica o que se quer intenso. Mas também o que existe com a função última de ser escondido e disfarçado. Os cheiros, por exemplo, são mais do que cheiros, enchem-se de hiperbólicas intenções e passam a ser pestilência. Toda a gente fala nas maravilhas do Verão, que reconheço e aproveito, mas ninguém se lembra das vantagens do Inverno, ou mesmo do Outono.
Só eu, que sofro de um problema de insatisfação patológico.
Experimentem andar de metro. Ou de autocarro. A experiência situa-se algures entre Dante e o Sudoeste: passando pelo tormento das esferas mais baixas do Inferno da Divina Comédia de Dante, (aquelas onde ficam os que pecaram mesmo à séria... bem longe do Platão e do Sócrates -o mais famoso- que ficaram alojados no Ritz lá do sítio porque o Dante lá os encaixou na categoria dos soft sinners dado que, apesar de não serem tementes a um Deus, até pensavam umas coisas giras) aqui com carruagens repletas de gente em sofrimento espartilhada por tops que são curtos demais, calças que se enfiam por tudo quanto é sítio e camisas empapadas em suores acumulados de vários dias... Até ao ambiente Sudoeste do metro! Cheio das hordas de "field trips" de cavalões e cavalonas que votaram nee e non, tudo loirissímas e andrajosas criaturas com um metro e noventa ou mais, a carregarem mochilas de dimensões astronómicas e com pinta de festivaleiros, todos alegremente visitando os primitivos povos mais baixos, mais morenos e mais peludos.
Alguns deles apontam e falam várias vezes em Darwin (única palavra que consigo distinguir, especialmente no caso dos que votaram nee) e suponho que devam estar a falar da Teoria da Evolução das Espécies e em porque é que estes habitantes desta província espanhola tão simpática com um mosteiro tão giro são tão rodinhas baixas.

Com frio pensa-se melhor. No Verão we're just acting silly.
Li, aqui, alguém que dizia que a sua relação com o Verão era assim parecida com a relação com um gajo (só) bom na cama, gosta-se mesmo muito mas depois não se pode levar a lado nenhum, público pelo menos. Pois, à mon avis, se o Verão é assim como o gajo que é bom na cama mas depois envergonha em público, o Inverno é mais como aquele que não é nada de especial na cama mas aconchega intelectualmente. Combustível em abundância para os neurónios...embora não faça tão bem à pele. O dito não aquece nada mas dá sempre vontade de carregá-lo para tudo quanto é concerto (especialmente os daquelas bandas que esta rapaziada apadrinha), exposição e tertúlia pseudo-intelectual.
Se calhar é no Outono que está a virtude.
Pois, estou em crer que eu gosto é do Outono.

(Chama-se a atenção para o facto de o post supra não impedir a autora de escrever futuros posts exaltando as vantagens do Verão. Não deverá ser tomado por incoerência. Apenas preocupação com a epiderme.)